Siga-nos nas redes sociais

Ouvir

O encontro abriu a série de atividades que serão realizadas pelo Conselho, em alusão ao Dia do/a Assistente Social, no Estado

Como entidade de classe de uma categoria cujo Código de Ética tem como princípio a luta pela superação dos preconceitos e o respeito à diversidade o Conselho Regional de Serviço Social 20ª Região (Cress/MT) realizou no dia 15 de maio, Dia do/a Assistente Social, palestra sobre o combate ao racismo com a assistente social e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Magali da Silva Almeira. Cerca de 200 estudantes de Serviço Social e profissionais participaram do encontro no Centro Cultural da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá.

A palestra marcou a abertura das atividades planejadas pelo Conselho durante o mês de maio na capital, em Cáceres e em Rondonópolis, em comemoração ao Dia do/a Assistente Social com o mote da campanha do Conjunto CFESS-CRESS: “Se cortam direitos, quem é preta e pobre sente primeiro”.

Segundo a palestrante, que é doutora em Serviço Social e possui trajetória de pesquisa sobre relações sociais de raça/etnia, gênero e classe e discriminações correlatas, o racismo está na base da formação do capitalismo brasileiro e os/as negros/as representam o setor mais explorado, sem contar seu peso numérico.

“O capitalismo precisa da exploração e da dominação da classe trabalhadora para se reproduzir. E a burguesia brasileira, em seu processo de consolidação enquanto classe social dominante e dependente do imperialismo, utilizou-se do mecanismo do ‘mito da Democracia Racial’ para melhor impor o racismo de forma institucional e ampliar a dominação, combinando dois fatores: raça e classe. Assim, é necessário entender que o racismo no Brasil serviu para violar os direitos da classe trabalhadora, e que o combate a essas violações requer o fim da propriedade privada, ou seja, uma luta que articule necessariamente as dimensões de raça e classe contra o capital”, disse.

A palestrante relembra que após 400 anos de escravidão, negros e negras ingressam no mundo do trabalho assalariado predominantemente nos serviços mais pesados e precarizados, com salários inferiores, expostos às piores condições de vida e de trabalho. “Consequentemente é essa parcela da população que se encontra imersa em todo tipo de violência, como moradias precárias, transportes públicos sem qualidade, falta de acesso à saúde, à educação e outros direitos e serviços. O que podemos concluir que é um fato o aumento do racismo na sociedade capitalista brasileira e que a pobreza tem cor”, pontuou Magali Almeira.

Outro ponto destacado pela professora da UFBA, que ao contrario de 19 anos atrás, as universidade públicas acolhem indígenas, negros, homossexuais, muçulmanos, entre outras minorias e está mais democrática, do ponto de vista da sua concepção.

“A política restritiva do atual governo sobre um dos mais importantes ensinos superiores do mundo, que visa barrar e destruir os avanços do ensino inclusivo é uma forma de racismo. Para se ter uma ideia o Brasil, em termos de investimentos está atrás apenas da Indonésia, Argentina, Colômbia e México. O desmonte formulado hoje pela elite brasileira é uma maneira de não investir na educação e a educação é um retrato de uma possível diversidade cultural e de gênero. Embora o Brasil represente 2,8% da população mundial sua participação relativa a estudantes universitários no planeta saltou de 2,7% em 2000 para 4,4% em 2014”, contou.

Para se ter uma ideia da importância das universidade públicas brasileira, de acordo com dados trazidos pela palestrante, somente no ano de 2018 as universidade públicas federais realizaram 17,4 milhões de exames, 6,8 milhões de consultas médicas, 339 mil internações de usuários, 232 mil cirurgias e 1398 transplantes em todo país. “Isso significa que o ataque aos hospitais universitários e o desmonte do SUS vai deixar 80% da população negra de fora ao acesso a saúde. Isso é racismo estrutural. Além disso, a redução orçamentária imposta as universidade públicas e institutos federais, sob pena de paralisarem totalmente suas atividade impõe nossa presença na cena publica cada vez mais incisiva na luta de classe. Esse ataque não é desprovido de ideologia racial, sexista e de classe”, ressaltou.

Magali ainda levantou a pergunta aos presentes de como podemos desconstruir esse racismo? “É necessário se apropriar da história da África e da diáspora forçada dos povos africanos, desmistificar a democracia brasileira e identificar como o Estado operacionaliza a discriminação através do racismo institucional. Para isso a pesquisa é fundamental. Além disso, defender as políticas sociais, pois quanto mais políticas públicas mais as populações menos favorecidas racialmente vão ter acesso a saúde e a educação. Por isso é importante que a questão racial esteja sempre na agenda permanente do Serviço Social “, afirmou.

Mesmo pensamento da presidente do Cress/MT, Andreia Amorim. “Por isso trouxemos a Magali para discutir, sensibilizar a categoria e nos munir de informação e conhecimento no combate ao racismo. Inauguramos essa discussão em Cuiabá com chave de ouro, para que a gente possa enfrentar o racismo no cotidiano de nossos trabalhos. Esteja o/a assistente social no CRAS, CREAS, Posto de Saúde, Previdência Social, Ministério Público, enfim em todos os espaços que o profissional atua, é dever e papel contribuir ao combate ao racismo. Principalmente em nosso Estado que é constituído em sua maioria, 57% de população negra, além de contar com diversos municípios com comunidades indígenas”, disse.

Para a assistente social do Fórum de Jaciara, Joana Faria Amorim, a palestra foi muito pontual ao relembrar todas as lutas que a profissional passou como mulher negra. “Escutei um pouco da minha vida, vim de uma educação tardia, tive vários momentos para desistir por preconceitos e por racismo. Mas com a ajuda de professoras que me apoiaram e fizeram com que eu olhasse para minha cor, minha condição de classe eu continuei na minha luta. E hoje estou aqui como profissional, lutando cada dia para uma sociedade sem racismo e mais igualitária. Foi um encontro que deu mais forças para continuar sempre batalhando”, declarou.

Assessoria de Imprensa Cress/MT – ÍconePress

COMPARTILHE NAS REDES SOCIAIS