Cerca de 400 profissionais, dentre assistentes sociais, estudantes e profissionais de outras áreas, participaram do evento nesta quinta e sexta-feira (22 e 23), no Hotel Fazenda Mato Grosso
O fortalecimento da assistência estudantil precisa ser articulado entre profissionais, estudantes e movimentos e sua defesa como direito perpassa a defesa da Educação pública universal, laica e de qualidade. Essas foram algumas das conclusões do Seminário Nacional “O trabalho do/a assistente social na assistência estudantil”, que aconteceu nesta quinta e sexta-feira (22 e 23), no Hotel Fazenda Mato Grosso, em Cuiabá. O Conselho Regional de Serviço Social 20ª Região (Cress/MT) participou do evento que reuniu quase 400 profissionais, dentre assistentes sociais, estudantes e profissionais de outras áreas.
Para a assistente social e professora da Uerj, Simone Lessa, falar de demandas que chegam ao Serviço Social a partir da assistência estudantil exige reflexão, organização política e resistência. E este debate deve ser orientado na perspectiva do Serviço Social brasileiro de defesa de uma educação pública universal, laica e de qualidade. Assim, em sua análise, a política de educação é tardia, incompleta, subfinanciada e altamente mercantilizada. E ainda que nos últimos anos mais pessoas tenham tido acesso ao ensino superior, o número ainda é pequeno, por isso não se pode falar de democratização da educação, mas de uma expansão precarizada. “Estamos passando por um processo que chamo de ‘fascistização’ da vida social e das políticas sociais”, destacou.
Lessa falou também sobre o perfil da categoria que atua na assistência estudantil: profissionais que se inseriram há menos de uma década nesses espaços, que são, em sua maioria, instituições de grande porte; desenvolvem um trabalho sem apoio administrativo e, em sua grande parte, marcado por um ritmo intenso, que exige a polivalência. “O empregador quer um trabalho técnico eficiente para responder às demandas burocráticas superiores”, criticou. Por isso, ela finalizou sua palestra destacando a importância da articulação coletiva e do fortalecimento profissional, se organizando inclusive para além da categoria, seja em fóruns, sindicatos de trabalhadores/as da assistência estudantil.
Em seguida, foi a vez da conselheira do CFESS e assistente social da UFMS, Francieli Piva, aprofundar o debate sobre a maneira como as demandas são apresentadas para assistentes sociais na assistência estudantil, principalmente nas instituições de ensino superior. Ela criticou a absorção de determinadas demandas como atribuições privativas da categoria, que não passam de tarefas burocráticas, como preenchimento de questionários. Alertou para o debate ético que determinadas demandas impõem à categoria, como avaliação e comprovação de renda de estudantes, requisição das bancas para avaliações das autodeclarações de estudantes cotistas, verificações de fraudes, entre outras. “Nós seremos fiscais ou profissionais que garantem direitos?”, questionou. Francieli chamou atenção para as condições técnicas de trabalho, como o próprio acúmulo de tarefas e de atendimentos, e as dificuldades objetivas para se garantir sigilo profissional.
Por fim, a conselheira do CFESS reforçou a importância de a categoria compreender o/a estudante em sua totalidade, combatendo o ponto de vista em que o Serviço Social, na assistência estudantil, é visto como a profissão responsável pela seleção da pobreza. “Uma grande estratégia é a construção de projetos de trabalho profissional, tendo a nitidez do que é o trabalho do/a assistente social e do que a política requer”, finaliza.
Para encerrar a mesa, a assistente social do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) Maria Conceição Borges fez sua fala sobre a temática, destacando que é necessário “pensar as respostas profissionais a partir das especificidades de cada público”. Ou seja, estudantes de ensino médio, que estão nos institutos técnicos, precisam de respostas diferentes das que estudantes universitários/as recebem.
Ela lembrou que em 2010, ano da aprovação do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), a categoria de assistentes sociais ainda não havia acumulado debate suficiente para contribuir de forma mais efetiva para a construção do programa. “Hoje temos condições de avançar nas nossas regulamentações”, ressaltou. Entretanto, Maria Conceição enfatizou que somente regulamentar não garante a assistência estudantil e a política de educação que o serviço social defende.
Por fim, ela destacou a necessidade de estar atento/a à questão do orçamento, lutando para que o mesmo seja participativo e transparente.
Articulação, estratégias e resistências
A última mesa-redonda do evento trouxe o tema A articulação entre o Serviço Social, organização de trabalhadores/as e usuários/as: estratégias e resistências. O primeiro a falar foi o assistente social e coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos da Universidade Federal de Sergipe (Sintufs) Fabio Santos.
Na exposição, o assistente social afirmou ser fundamental discutir as possibilidades de resistência do projeto ético-político profissional, que, para ele, “só irá sobreviver com a articulação do Serviço Social com os movimentos de trabalhadores/as e usuários/as, bem como com os movimentos sociais.
“A gente precisa se reconhecer como trabalhadores e trabalhadoras assalariados e, a partir disso, fortalecer a nossa organização política por ramo de atividade nos sindicatos. Nossos sindicatos são espaços de resistência, de luta contra a regressão de direitos, em conjunto os movimentos sociais e os/as trabalhadores com os mais variados vínculos trabalhistas”, analisou.
Quem deu prosseguimento ao debate foi a estudante de Serviço Social da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) Paula Eduarda Soares, usuária do programa de assistência estudantil da entidade. Segundo ela, para os/as estudantes de grupos em situação de vulnerabilidade, a assistência estudantil é entendida como uma política pública, como direito que vai lhes auxiliar a garantir a permanência na instituição de ensino. “No entanto, a necessidade não se refere somente à questão financeira. Sofremos racismo, machismo, homofobia e tudo isso afeta a maneira como apreendemos e como nos posicionamos dentro da sala de aula”, afirmou a estudante.
De acordo com Paula, este é mais um motivo pelo qual a luta pela assistência estudantil precisa ser articulada com os/as profissionais que executam a política. “Defendemos a assistência estudantil como um mecanismo de combate à evasão escolar, o que abrange vários aspectos. A universidade é reflexo da sociedade e, por isso, nela se refletem também as diferenças, preconceitos e opressões que vivenciamos no cotidiano”, completou a estudante.
Avaliações
Para a presidente do Cress/MT, Andreia Amorim, foi uma honra receber esses dois dias de evento em Cuiabá. “Um evento que não só debateu o programa nacional de assistência estudantil, mas também percorreu questões e premissas da profissão, e a importância de nós assistentes sociais estarmos nas equipes da assistência estudantil. Ainda destaco o fato da assistência estudantil integrar a área do serviço social na educação, o que permitiu que a gente olhasse para questões que os profissionais enfrentam na escola, não só no que tange a assistência estudantil, mas a educação como um todo. Educação, uma área que a gente ainda não tem uma grande expressão de profissionais, e uma parte importante já que defendemos uma educação pública, laica e democrática”, apontou.
O assistente social e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), Sherman Walter Soares da Silva, destacou a troca de experiência entre os profissionais. “Foi muito bom ouvir as histórias e os anseios dos colegas e que apesar de serem de locais diferente são parecidos. E no cenário político complicado que passamos é de extrema importância eventos como esse. As mesas formadas nos mostraram algumas alternativas para lidar com algumas situações do nosso cotidiano e agora é refletir. Foi um uma ótima preparação para o 2º fórum de Assistência Estudantil da IFMT que iremos realizar”, contou.
Mesma opinião da assistente social do IFMT, Luciana Gonçalves Lima. “O seminário estadual e o nacional, atenderam nossas expectativas, já que há muito tempo queríamos debater uma série de questões na assistência estudantil em um espaço coletivo. E tivemos a oportunidade de dialogar com os profissionais de diferentes estados, para pensar em caminhos e estratégias, que melhorem o trabalho dos assistentes sociais”, disse.
Já a estudante do 6º semestre de Serviço Social da Universidade Federal de Mato Gross (UFMT), Paula Eduarda Sales da Silva, destacou que o evento superou as expectativas. “Me impressionou o número de assistentes sociais presentes para debater o assunto, nesse que foi meu primeiro evento nacional, e disposição de todos para pensar e debater as estratégias para a assistência estudantil. Eventos como esse mostram a realidade dessa área e foi muito bom conhecer um pouco mais sobre o que pode ser o meu foco na profissão”, afirmou.
E a conselheira do Cress/MT, Suzi Mayara da Costa, que encerrou o seminário, destacou a importância de eventos como o seminário, enquanto espaço para pensar em estratégias de resistência e renovação na atuação profissional, na conjuntura atual de regressão de direitos, de políticas públicas e de corte de recursos, diante de requisições profissionais que vão de encontro ao projeto ético-político do Serviço Social. “No entanto, celebro o esforço de todos e todas que aqui vieram, sejam estudantes, assistentes sociais, para refletirmos coletivamente na direção do fortalecimento da organização de nossa categoria. E fiquei muito feliz com contribuição expressiva de todos os participantes no debate. Ressalto ainda como o seminário conseguiu estabelecer uma mediação entre os desafios no âmbito da conjuntura atual e as implicações disso, seja no orçamento, para as condições éticas e técnicas do trabalho de assistente sociais”, afirmou.
Assessoria de imprensa Cress/MT – ÍconePress – Com CFESS